O cinema no estilo ‘drive-in’ – pra quem não sabe: o que se
assiste ao filme de dentro do carro – foi uma febre nas décadas de 60 e 70.
Depois foi caindo em desuso, por razões mercadológicas que fazem com que certos
empreendimentos durem mais e outros menos. Eu lembro de ter ido algumas vezes e
de ter sido sempre uma experiência interessantíssima. Em algum momento da
história os casais sem teto em busca de um lugar pra ficar “à vontade”,
descobriram que o cine drive-in servia também como motel drive-in. Foi o começo
do fim .. Agora, só resistiu um cinema drive-in no Brasil, em Brasília. É ele a
principal locação/personagem do longa ‘O Último Cine Drive-in’, representante de Brasília
na cena nacional do momento.
O roteiro conta uma história simples e aparentemente óbvia. O
jovem Marlombrando (Breno Nina) retorna à capital federal depois de anos em
busca de tratamento pra sua mãe Fátima (Rita Assemany), que tem câncer no
cérebro. Lá ele reencontra seu pai, Almeida (Othon Bastos), dono de um cine drive-in
em decadência onde Marlombrando passou sua infância. A mãe fica internada no
hospital, e ele se hospeda na casa do pai, que fica no terreno do cinema. Lá
conhece Paula (Fernanda Rocha), uma garota misteriosa que agora ocupa seu
quarto e trabalha no drive-in como projecionista. A doença de Fátima se revela letal
com expectativa de apenas dois meses de vida. O cinema, falido, acaba recebendo uma ordem de fechamento. Pai e filho precisam conviver mas
amargam mágoas de um passado sofrido. E eis que Marlombrando retira do baú dos
sonhos uma ideia que pode trazer alguma luz ao fundo do poço onde todos os
personagens estão inexoravelmente caindo.
Um filme, singelo, poético, naturalista e despretensioso,
que mescla inteligentemente ficção e documental, sem tentar pôr os gêneros lado
a lado, mas fundindo-os numa coisa só. Brasília é um cenário onipresente onde
os personagens se movimentam com desenvoltura e intimidade. A produção simples,
mas bem cuidada e atenta aos detalhes, garante a credibilidade e o envolvimento
da audiência com o filme.
O elenco, em estado de graça, oferece performances inesperadamente
arrebatadoras. O maranhense Breno Nina, esplêndido como Marlombrando, mostra
total intimidade com a câmera, seu protagonista consegue uma empatia tal com o
espectador que é rara de se ver. Othon Bastos também surpreende num papel difícil que
exige do ator o domínio das emoções contidas. E Fernanda Rocha arrebenta como a
“operadora cinematográfica” grávida que
parece lésbica. No mais, todos os atores – incluindo as participações especiais
– estão muito bem, íntimos dos personagens.
A direção de Iberê Carvalho (também assina roteiro e
produção) é precisa, coerente – mais preocupada em pôr a plateia dentro do
filme do que em exibir recursos estilísticos desnecessários – e consegue momentos
de puro encantamento, como a cena em que Paula bate a poeira de um colchão
velho, entre tantas outras.
A trilha sonora original de Sascha Kratzer é outro elemento que tem resultado plenamente eficiente, embalando o filme com importantes momentos de respiro, reflexão e contemplação. E, finalizando, o capricho da finalização da O2 Filmes contribui para tornar ‘O Ultimo Cine Drive-in’ um filme muito agradável de se ver.
A trilha sonora original de Sascha Kratzer é outro elemento que tem resultado plenamente eficiente, embalando o filme com importantes momentos de respiro, reflexão e contemplação. E, finalizando, o capricho da finalização da O2 Filmes contribui para tornar ‘O Ultimo Cine Drive-in’ um filme muito agradável de se ver.
O espectador – mesmo o mais exigente – sai da sessão feliz
..
.DarioPR