O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN (2014/DF/100’), de Iberê Carvalho – crítica por Dario PR



O cinema no estilo ‘drive-in’ – pra quem não sabe: o que se assiste ao filme de dentro do carro – foi uma febre nas décadas de 60 e 70. Depois foi caindo em desuso, por razões mercadológicas que fazem com que certos empreendimentos durem mais e outros menos. Eu lembro de ter ido algumas vezes e de ter sido sempre uma experiência interessantíssima. Em algum momento da história os casais sem teto em busca de um lugar pra ficar “à vontade”, descobriram que o cine drive-in servia também como motel drive-in. Foi o começo do fim .. Agora, só resistiu um cinema drive-in no Brasil, em Brasília. É ele a principal locação/personagem do longa ‘O Último Cine Drive-in’, representante de Brasília na cena nacional do momento.

O roteiro conta uma história simples e aparentemente óbvia. O jovem Marlombrando (Breno Nina) retorna à capital federal depois de anos em busca de tratamento pra sua mãe Fátima (Rita Assemany), que tem câncer no cérebro. Lá ele reencontra seu pai, Almeida (Othon Bastos), dono de um cine drive-in em decadência onde Marlombrando passou sua infância. A mãe fica internada no hospital, e ele se hospeda na casa do pai, que fica no terreno do cinema. Lá conhece Paula (Fernanda Rocha), uma garota misteriosa que agora ocupa seu quarto e trabalha no drive-in como projecionista. A doença de Fátima se revela letal com expectativa de apenas dois meses de vida. O cinema, falido, acaba recebendo uma ordem de fechamento. Pai e filho precisam conviver mas amargam mágoas de um passado sofrido. E eis que Marlombrando retira do baú dos sonhos uma ideia que pode trazer alguma luz ao fundo do poço onde todos os personagens estão inexoravelmente caindo.

Um filme, singelo, poético, naturalista e despretensioso, que mescla inteligentemente ficção e documental, sem tentar pôr os gêneros lado a lado, mas fundindo-os numa coisa só. Brasília é um cenário onipresente onde os personagens se movimentam com desenvoltura e intimidade. A produção simples, mas bem cuidada e atenta aos detalhes, garante a credibilidade e o envolvimento da audiência com o filme.

O elenco, em estado de graça, oferece performances inesperadamente arrebatadoras. O maranhense Breno Nina, esplêndido como Marlombrando, mostra total intimidade com a câmera, seu protagonista consegue uma empatia tal com o espectador que é rara de se ver. Othon Bastos também surpreende num papel difícil que exige do ator o domínio das emoções contidas. E Fernanda Rocha arrebenta como a “operadora  cinematográfica” grávida que parece lésbica. No mais, todos os atores – incluindo as participações especiais – estão muito bem, íntimos dos personagens.

A direção de Iberê Carvalho (também assina roteiro e produção) é precisa, coerente – mais preocupada em pôr a plateia dentro do filme do que em exibir recursos estilísticos desnecessários – e consegue momentos de puro encantamento, como a cena em que Paula bate a poeira de um colchão velho, entre tantas outras. 

A trilha sonora original de Sascha Kratzer é outro elemento que tem resultado plenamente eficiente, embalando o filme com importantes momentos de respiro, reflexão e contemplação. E, finalizando, o capricho da finalização da O2 Filmes contribui para tornar ‘O Ultimo Cine Drive-in’ um filme muito agradável de se ver.

O espectador – mesmo o mais exigente – sai da sessão feliz ..


.DarioPR