O 43º Festival de Cinema de Gramado começou ontem em clima
de verão. Faz calor e nem parece que estamos no inverno. A pequena cidade da
Serra Gaúcha que tem cerca de 35 mil habitantes, durante o festival fervilha,
recebendo quase 300 mil turistas de todo o Brasil e do Mercosul. A rede
hoteleira registra uma ocupação de quase 100%, e muitos moradores aproveitam para
alugar seus imóveis por temporada. É óbvio que a grande maioria não vem pelos filmes, mas
pela festividade. E festa é o que não falta. O termo “festival” encontra em
Gramado seu sentido pleno.
A abertura aconteceu no final da tarde na Rua Coberta, que é
por onde se estende o famoso Tapete Vermelho que leva à entrada do Palácio dos
Festivais, e foi marcada pelo já tradicional show da Orquestra Sinfônica de
Gramado tocando trechos clássicos de trilhas sonoras – Pantera Cor-de-Rosa,
007, Indiana Jones etc. Sugiro para o próximo ano que a orquestra inclua no
repertório alguns temas marcantes da cinematografia nacional e latino-americana,
para fazer justiça ao teor do festival. Entre os diversos discursos das
autoridades, destaco aqui o do secretário nacional do Audiovisual, Pola
Ribeiro: “Aos 43 anos, Gramado não dá sinais de desgaste. Pelo contrário, se
reinventa a partir da inserção de produções latino-americanas e dá um passo
importante na construção de uma verdadeira integração entre os países do nosso
continente”.
A primeira sessão da noite começou com as boas-vindas da tradicional
dupla de apresentadores Leonardo Machado e Renata Boldrini (como vocês podem
ver, Gramado gosta de uma tradição). E seguiu-se com as apresentações das
equipes do primeiro curta da mostra competitiva brasileira e do longa-metragem
de Abertura.
‘Bá’ (2015/SP/14’), de Leandro Tadashi, é um curta sensível
e delicado, que mostra a velhice sob a perspectiva de uma criança. Um menino
tem que administrar uma nova rotina quando sua "Bá" (de Batchan, avó
em japonês) vem morar com a família. A intensão do diretor foi construir duas
realidades opostas: o mundo urbano, claustrofóbico e barulhento onde vivem a
mãe, o pai e a filha; e outro silencioso, contemplativo, ligado às plantas e à
natureza, compartilhado “telepaticamente” pelo menino e sua avó. A história é
autobiográfica e a própria avó do diretor atua interpretando a si mesmo. Ótimo.
Confiram aqui o trailer: https://vimeo.com/134331770
Na sequência tivemos o longa ‘Que Horas Ela Volta?’ (2014/SP/111'), de Anna
Muylaert, que a princípio estaria na mostra competitiva mas acabou saindo da
competição “em virtude de uma sessão de pré-estreia marcada para o dia 11 de
agosto em São Paulo, que iria de encontro ao regulamento do festival”, segundo
informou à imprensa a organização do festival. Nós da imprensa não ficamos nem
um pouco convencidos sobre os verdadeiros motivos que cercaram essa decisão,
visto que quadro dos outros filmes nacionais em competição já foram exibidos em
sessões abertas ao público em outros Festivais. Entretanto, apoiamos firmemente
a solução de manter o longa como filme de abertura. ‘Que Horas Ela Volta?’ é
ótimo, foi calorosamente recebido pelo público do festival e vai merecer um
texto especial que escreverei logo após este.
Depois de um longo intervalo com muitas celebridades divando
no tapete vermelho, tivemos mais um curta brasileiro e um longa mexicano
encerrando a noite.
‘Como são Cruéis os Pássaros da Alvorada’ (2015/MG/20’), curta
de João Toledo, por ter perdido o ineditismo em uma sessão aberta ao público, também
foi retirado da mostra competitiva. “Ele não estava lá. Tampouco conseguia sair
do lugar”.. Partindo dessa sugestiva sinopse, o curta aborda a difícil passagem
da adolescência para a vida adulta, centrado num jovem e suas confusas relações
sociais. Trailer: https://vimeo.com/124278214
‘En La Estancia’(2014/México/106’), de Carlos Armella, é uma
ficção com pinta de documentário e tem Alejandro González Iñárritu como produtor.
La Estancia é um vilarejo abandonado no tempo e no espaço,
foi despovoado após a falência da mina em torno da qual se organizava. Um
documentarista chega para registrar a vida de seus dois últimos habitantes, um
idoso e seu filho, estabelecendo com eles uma estreita relação.
O recurso da câmera na mão, Jesús Vallejo interpretando o
idoso, e a boa performance do ator que interpreta seu filho, Gilberto Barraza –
garantem a qualidade e mantem o interesse do espectador no filme. Muito bom.
Trailer: https://youtu.be/_jjfBOq7bZI
Amanhã tem mais ..
DarioPR