RODRIGO TEIXEIRA (RT FEATURES) NO 4º OLHAR DE CINEMA DE CURITIBA - por Dario PR




O Festival Olhar de Cinema de Curitiba agitou a capital paranaense. Na sexta, o produtor Rodrigo Teixeira, fundador e proprietário da RT Features, e certamente o mais internacional de nossos produtores, fez um seminário esclarecedor e corajoso sobre os mecanismos nacionais e internacionais de produção cinematográfica.

O último filme internacional produzido por Rodrigo - 'The Witch' - recebeu este ano no Festival de Sundance o prêmio de Melhor Direção (drama). A RT Features já produziu 22 filmes e três séries de TV. E Rodrigo tem no currículo nada menos que as produções de 'Love is Strange', 'Frances Ha', 'Night Moves', 'Tim Maia', 'Alemão', 'Quando Eu Era Vivo', 'O Gorila', 'Heleno', 'O Abismo Prateado', 'Natimorto', 'O Cheiro do Ralo', entre outros .. Além do quê, é uma figura ótima que eu adorei conhecer. Compartilho com vocês alguns momentos do Seminário. 

Oriundo do mercado financeiro, Rodrigo diz que atuava na área de desenvolvimento de projetos editoriais e conhecia pouca gente no mercado audiovisual quando decidiu fundar a RT Features. “Tudo começou com o projeto editorial Camisa 13, que originou vários livros. Um deles, 'Palmeiras - Um Caso de Amor', de Mário Prata, acabou se transformando no filme de sucesso 'O Casamento de Romeu e Julieta'.

Tomei gosto pela coisa e em seguida produzi 'O Cheiro do Ralo', que não captou um único real. O diretor Heitor Dhalia e eu levantamos o dinheiro sem grandes expectativas e nos tornamos sócios do filme, que acabou sendo um grande sucesso. Gostei deste modelo de negócios e passei a me dedicar à compra de direitos dos livros para produções de cinema e à produção propriamente dita”.

Muito rapidamente, a RT Features passou a atuar também no mercado internacional, “pois estava mais fácil comprar direitos dos livros no exterior que no Brasil. Além do fato que o filme falado em português tem mercado muito restrito”.

“Nos Estados Unidos, o produtor independente faz a pré-venda para a distribuidora e ganha muito dinheiro com isso. Depois, com o filme em cartaz, entra mais dinheiro ainda, aí sim dinheiro grande, de verdade. E, dependendo da cotação do dólar, produzir nos EUA é mais barato que produzir no Brasil. O risco é grande, mas os ganhos são ótimos. Eu recomendo”.

"Frances Ha, por exemplo, produzido pela RT, teve um investimento de US$ 500 mil, e já na pré-venda recebeu US$ 2,1 milhões adiantados do distribuidor. No Brasil, a distribuidora quer receber o P&A [verba das cópias e divulgação do filme] adiantado, coisa que eu não concordo. Produtora e distribuidora devem ser sócias no filme”.

Teixeira afirma que no exterior existe um preconceito grande contra o filme nacional, e culpa a falta de estratégia do próprio cinema brasileiro: “O Brasil envia para a seleção do Festival de Cannes tanto 'Qualquer Gato Vira-Lata' como 'O Som ao Redor'. Qual o curador que vai levar este tipo de estratégia a sério?”

Em relação aos filmes brasileiros, Teixeira destaca a necessidade de começarmos a trabalhar com “orçamentos realistas”. “Apostando em orçamentos menores, produzi 'O Gorila', 'Quando Eu Era Vivo' e 'Alemão'. Ganhei dinheiro com estes três e perdi no 'Tim Maia'. 'Alemão' custou metade de Tim Maia, incluindo lançamento, e rendeu bem mais. Recuperamos o investimento no primeiro mês e dobramos no segundo.”

Teixeira se define como um produtor internacional. “Faço filmes estrangeiros porque gosto de cinema. Não tenho bandeira. Mas é claro que eu queria ver filmes brasileiros viajando”.