CRITICANDO CURTAS DO 9º AMAZONAS FILM FESTIVAL - PÓSTUMO


Conforme prometido, começo a postar aqui no blog críticas relâmpago de curtas apresentados no 9º Amazonas Film Festival. São filmes que os próprios realizadores estão me mandando, pois durante o festival só pude ver os que passaram na sessão noturna, ou seja, pouquíssimos. Deixo claro ainda que esses curtas – e as respectivas críticas – estão sendo postados com o consentimento dos diretores de cada filme. Não tenho nenhuma intenção de diminuir ou desmerecer o trabalho de nenhum realizador. Muito pelo contrário. Procuro fazer críticas construtivas, realçando os aspectos positivos que encontro, mas sem deixar de dizer com franqueza o que observei no curta. Porém não são verdades absolutas, apenas as modestas opiniões de um crítico cinéfilo.

O primeiro curta criticado chama-se Póstumo, tem 7 minutos, é um filme experimental e ganhou, na categoria dos curtas de ficção amazonenses, o prêmio de melhor roteiro, que foi dividido entre Diego Nogueira (que também assina direção, fotografia e edição), e Caio Henrique (que também fez a Direção de Arte). É o segundo curta de Diego, o primeiro chama-se O Encontro, é mudo e curtíssimo, entretanto, lhe deu a oportunidade de estar num grande festival pela primeira vez, conhecer pessoas e ver que é possível fazer cinema no Amazonas.

Conversei com Diego pelo Facebook, e descobri que ele tem 21 anos, é formando em Publicidade pelo Instituto Federal do Amazonas, trabalha de videomaker na Neotrends, ama os roteiros do Woody Allen ("é por causa dele que quero escrever pra cinema"), adora os filmes do Christopher Nolan e admira demais os passos dados pelo Fernando Meirelles. Para escrever Póstumo, ele se inspirou na frase de Gautier, poeta francês: 'Nascer é apenas começar a morrer'. "A partir desta frase foi quase que automática a construção do roteiro na minha cabeça", me contou Diego. Foi ele que me mandou o link do filme no Vimeo, as fotos e me autorizou a postagem. É a ele que me dirijo nas palavras abaixo.


- Diego, parabéns, seu filme é delicado, sutil, especial .. e algo pretensioso. O roteiro-poema é ótimo, super-mereceu o prêmio ganho. Brinca com a repetição de chavões corriqueiros - “morri de fome .. morri de inveja .. morri de rir” - para compor uma verdade poética outra: a morte nossa de cada dia. Gostei muito da atriz, Marianna Sarmanho. Bonita e expressiva, passa profundidade e força sem afetações. Também gostei da voz que narra, Érika Guedes. Melodiosa, sem ênfases desnecessárias, verdadeira na simplicidade. Porém a voz de uma não combina com o corpo da outra. Fica claro que são atrizes diferentes. É como filme dublado na TV .. com som original é sempre melhor, não é?



- Vê-se no seu curta o capricho da produção. A locação é muito boa, bem iluminada, colorida, condizente com a personagem. A direção de arte é minuciosa, rica em detalhes e de muito bom gosto. Som e imagens têm ótima qualidade. Que câmera você usou? A edição sonora também é um dos pontos fortes do filme. Você soube mesclar com eficiência música, sons minimalistas e silêncio .. eu só evitaria os momentos musicais com letra, entremeando com a voz da narradora, pois dá (con)fusão de falas, principalmente pra quem entende inglês.



- Sua direção/edição é cuidadosa e gentil, cativa o olhar .. Nota-se que, alem de talento, você colocou nesse projeto uma porção considerável de amor, que transborda da tela. É por aí mesmo. Cinema se faz com o coração. Agora a má notícia: você precisa se livrar logo de alguns vícios de linguagem, tanto de câmera (big closes + zoom in/outs) como de montagem (fades e cross-fadings), que se repetem às vezes sem necessidade, podendo gerar incômodo no espectador, ou não. São vícios do principiante. Seja mais ponderado no uso de recursos cinematográficos e, quando usá-los, faça-o com objetivo claro. Não gaste virtuosismos à toa. Não tema o corte simples nem a câmera parada. As imagens finais do cemitério são assim: simples, paradas e perfeitas. Busque a sutileza na simplicidade, pois é lá que ela mora, e você sabe disso.

Diego Nogueira, diretor e roteirista de Póstumo


- Não entendi os merchandising (Toddynho e Jose Cuervo Especial). Rolou alguma grana daí?

- Ah! A edição de letreiros é maravilhosa. E a tela preta por meio-minuto é uma sacada e tanto. É o nada, a morte. Parabéns pelo filme, é redondo, conciso, poético sem ser piegas, principiante e promissor, sem pedantismo. Morri de amar.

Abraço carinhoso
.DarioPR

PESSOAL, SE CHEGARAM ATÉ AQUI, AGORA CONFIRAM O CURTA DO DIEGO NO ENDEREÇO ABAIXO:

https://vimeo.com/53344208



PS> Os próximos curtas a serem criticados serão A DAMA DO ESTÁCIO e FILHOS DO HAITI. Aguardem.